sexta-feira, 12 de agosto de 2011

6AM

Bom dia padeiros e entregadores de jornal.
Bom dia quem dorme pouco e acorda mal.
Bom dia vento que traz nuvem esconde o sol e faz o temporal.
Bom dia padres que rezam missa cedo pra quem tem medo.
Bom dia medo.
Não existe bem e não existe o mal.
Boa noite vigilantes e plantonistas de hospital.
Boa Noite Austrália e Nova Zelândia
As montanhas russas estão paradas na Disneylândia
Que superem a noite os insones da Costa Oeste da América e baladeiros do Chile Austral.
Lembrem-se que a vida é breve e quase tudo é natural.

A natureza cria e destrói, permite e cancela e nunca está certa ou errada.
O sol não importa pra quem mantém a janela fechada.
Pra quem dói na solidão ou pra quem vive uma paixão.
Queiramos ou não a natureza não se importa
Mesmo que tranquemos a porta ou desliguemos o celular.
Lembrem-se que e o sol está sempre se pondo e nascendo em algum lugar.
Ora na terra ,ora no mar.

Ele caminha suspenso no ar
Sobre nossas cabeças cansadas de pensar

Presenciemos ou não,
Creiamos no sol acima
O sol é preciso e é preciso
Acreditar e ter
Posição


Mas saibamos acima de tudo,

Que tudo no fim de tudo é teatro
Não passa de distorcida percepção do fato
E no final do ato não há nada que se alcance
é mero romance
mero romance.

Rodrigo Barata

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Alta

Não fui, não fiz o que eu quis, eu que tanto
Quis
Como se diz? O que se diz? - a quem não interessa
A peça falta eu peço alta, eu quero alta
Deste teatro deste estúpido
Hospital
Se estou bem ou se estou mal se estou acima estou abaixo estou normal
Não cabe mais a quem não sabe
Decidir
Eu quero ir eu vou partir
Daqui
E vou ouvir pra não dizer e vou querer sem conceber como fazer
Eu vou fazer
Sem assumir as conseqüências
Falta decência a quem decide como quanto e o porquê
Devo pagar
Não vou pagar
Há tempos não assino e não ensino e não concordo em aprender
E não planejo, eu não almejo
Nada mais
Ao menos fui
Aonde deveria
E se não fui adiante é porque o sol desceu e a lua era Nova
E perdi o horizonte, eu que só aprendi sobre o cruzeiro
Do sul
E foi por tanto almejar que concordei em concordar
Na hora mais errada em levar essa porrada
Quase Final
Não vou, contudo, perder a dignidade para com meu coração.

Rodrigo Barata, fevereiro 2011.

domingo, 20 de junho de 2010

Sobre o galo que se foi, a senhora que se foi, e sobre o velho e eu, que aqui continuamos.

Foi-se o galo, e eu fui, voltei e agora ela se foi. A senhora, mulher do velho vivo. Sim ele vive e eu, eu que não sofro pelo galo, não mais, continuo aqui insone e vil. Eu não presto e por não prestar me presto a julgar - o velho, o galo que não há mais, e mais um monte de outras coisas e gentes.

Eu estou sujo por dentro e por fora, sem coragem de orar e sem argumentos. Em momentos de arrogância eu fui atrás daquilo que não me permite a humanidade. Transcender à força os limites do prazer e tão pior, os limites do saber.

O querer tão forte em mim me faz faminto e é quando eu minto a mim e a todos. É quando eu tento convencer, e convencer é um erro, fruto imaturo, é não saber ouvir, é escrever e não ler. A idade já deveria me prover de maior sabedoria e me fazer saber que o sedutor dá um tiro no pé. O sedutor não tem fé, e por isso vive a sugar nos outros aquilo que lhe falta. Falta-lhe a alma e só a alma, só a alma é imortal.

Eu sigo assim vampiro, acordo humano e tenho meus momentos de lucidez. Mas eu deliro em cada vez que sou tentado a tentar. A seduzir e almejar um par. Hei de aceitar minha condição impar e continuar assim a (me) confundir.

Só a mim engano.Passou um ano e a senhora sabia, o velho continua sabendo e sabe todo mundo menos o galo – que morreu sem saber que viveu, sem saber da velha e sem saber que eu, me propus a escrever sobre ele. Certamente não sabia sequer que era um galo. Sobrou agora o velho vizinho e do outro lado eu, insone e sozinho. Todos morremos sozinhos essa verdade é incontestável. O que se faz insuportável e cada vez mais, é o medo da morte que me faz sugar e sugar e sugar. É a fé que me falta e o fato que não recebo alta deste hospital de loucos.

Eu espero então, que haja sangue e vida suficientes nesse mundo que saciem a minha fome insaciável. Que haja galos que sumam para só então eu me dar conta que o que me falta é parar de contar os dias e os amigos ao passo que perco os dois, minuto a minuto. Falta-me entender que a culpa se inflama quando se põe lenha na fogueira da vaidade. E quando eu aceite que me faltam desculpa e argumentos para lutar contra a verdade.

Que descanse então em paz merecida a senhora onde esteja a vida que dela se esvaiu, e que me perdoe seja a memória ou a ideia dela - que me perdoe a ideia dela se a fiz sofrer em momentos em que doía. Raiou o dia e ela se foi, o galo se foi, o velho ficou e eu ainda sofro insone. No mesmo quarto do qual parti e para onde voltei e onde me vejo - o quarto ao lado. Machucado a cada vez em que eu abro a ferida em cada noite mal dormida na eterna busca de uma perdida claridade, de um gosto de humanidade. E em cada vez que eu deixo a cidade para sempre nunca mais voltar.

São 2 horas e estou sentado, triste e abalado já que nem sempre eu consigo acreditar em tudo que eu digo. Não consigo crer que o Rodrigo que almejou ser tão genial não passa de uma farsa. As pegadas sumiram e eu só espero, realmente espero estar sendo carregado por um deus que veja em mim o que não vejo. Um homem apto a luta, que siga adiante no caminho incerto e escuro. Que eu me levante melhor e que a dor que sinto se transforme em lucidez. Que seja assim ou que então que me permitam morrer, de verdade e para sempre. De vez.

Rodrigo,21Jun2010.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

São Paulo

São Paulo eu prometo não rimar no infinitivo
E te amar sem reservas, medos ou motivos

Decidido e condicionado por tuas formas eu me coloco em teu centro
Eu me concentro

Nesse amor
e por esse amor te julgo acima de tua indecência
Me ponho dentro sem proteção
- por inocência
E dose certa de inerente incoerência
Que nunca falha em me fazer alcançar

São Paulo eu te como por fome e sem reservas
Medos ou motivos

Por não saber rimar no infinitivo


E eu acho que só você é capaz


De me entender e entender como


Meus medos refletem nos teus
espelhos de céus azuis e vermelhos que me cegam
os olhos

eles
abrem quando me tocas a ferida aberta na hora incerta
Como uma amiga leal

São Paulo eu te conheci por espelhos e és muito melhor assim
Quando caminho por ti em confidência

Sussurrando que estou feliz
por não ter esperado conselhos
E me haver poupado escutar de teus tão certos defeitos

Teus futuros imperfeitos,
teus sês e quandos e senãos

São Paulo que acontecimento tão doloroso eu espero
Que eu não possa te suportar?

O que eu te peço, e tão só o faço
É que aceites o catálogo de sofrimentos antecipados que eu trago comigo

Meus medos, eu nos prometo
Eu hei de superar


Rodrigo Barata, 2/2010

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Lastro

Com calma eu sigo
Menos ingênuo e mais amigo
A alma expande e eu dou abrigo
Ao Rodrigo que hoje estou

E sou
Nada mais do que sobrou
Da última explosão

Quando de estrela eu fui ao chão
E como Adão da terra fui moldado
Feito homem e soldado

Feito herói e filho da puta

Apto a luta, pois só assim se há de ser quando a vida é incerta
Eu sigo sozinho - minha costela ferida aberta
E adiante a floresta é negra e densa

Mas quem pensa demais não entra e age pouco
Ou pior, vive em reação
Não deixa rastro, vive infeliz e acaba louco

Em autocombustão

Por isso eu sigo
De peito aberto e espada em punho -
Minha moeda eu cunho -
Que minha vida sirva de lastro

E que se agregue o valor devido
A cada dor sentida
A cada coração apunhalado
Por uma promessa não cumprida

Eu sigo sereno e quando o dia vira noite e o ar se torna ameno
Eu paro por um lamento, pois sou humano e há momento para tudo
E é preciso beber água para que a mágoa não me consuma

Para que a mágoa não me Criciúma

E é quando,

Eu sento ao lado de meu inimigo
E lhe digo que sinto não por remorso
Mas sim por compaixão

Só assim posso seguir em frente
Mente a si mesmo quem oscila entre o ódio e a culpa
É no sentir a dor alheia que reside a sanidade
Não importa a idade a sanidade é atemporal

E eu sigo calmo, entre o bem e o mal
Transito livremente porque estou leve sei que a vida
É breve
Demais

Para que eu me perca ou me esconda ou atole
Água mole em pedra dura; por hora
Antes que fure
Evapora

E assim eu sei que talvez não seja nessa vida
Que eu receba compreensão ou os louros
Que já nem sei se quero mais

Talvez eu morra sem que encontre a minha paz
E o que eu deixe seja mera fotografia de uma luta
E talvez essa fotografia pareça um tanto insana

A verdade expõe - por definição - a tragédia humana
E que valha a pena tamanha exposição

Que eu conte história ou até inspire reflexão
Depois que eu expire e volte a terra e o vento leve
Num mesmo sopro que me criou

A vida é breve e a alma cresce e dá abrigo a quem eu amo
E ao que sou

Um Rodrigo que é mais que a soma de suas partes
Mais que o jogo de suas sortes
Mais que o mosaico de suas artes


Rodrigo Barata 01/dez 09

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Aconteceu no último dia de 2008

O sol queimava resquícios de um ano e a cidade vazia e o lixo do natal. Um garoto limpava a rua, insuspeito da própria resignação. Veio o carro, negro e novo. Dentro dele, ela, inimiga do povo. A mulher, no volante e com a mão na buzina. O corpo humano, feminino limitando dentro de si um universo de frustrações. No último dia do ano, a mulher, ao volante, não enxergou no garoto um humano, e buzinou uma incoerência que me doeu os ouvidos, exigindo que o garoto retirasse o lixo de seu caminho, para que ela pudesse estacionar.

Pobre mulher, que sem pensar deve ter se assustado ao se dar conta de sua pequeneza. Dentro do carro se sentindo realeza ouviu de mim o insulto bem colocado, lhe pondo nua no meio da rua, com seus quilos a mais de educação pequeno burguesa.

Aprendamos Brasil, a viver em sinergia. Aprendamos Brasil que a verdadeira alegria consiste na compaixão. De carnavais, Brasil, não se constrói uma Nação.

Criciúma, 31 de dezembro de 2008.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Hangover 9am

Eu escuto eu vejo eu mastigo
Cuspo o que não digiro
Vomito quando tudo é demais
E então me coloco de castigo

Acordo com sede doído cheirando parede

E é quando tudo fica chato e sem graça e
Eu perco a graça na frente do espelho
Eu perco a vontade na frente do espelho
E eu perco a fé

Mas então yeah yeah yeah,

Por milagrosa insistência
Eu acordo por decisão
E ser passa ser questão

crucial

Eu metade ar metade animal
Um pouco de tudo o que há por aí
Volto à cena

Sorrindo a quem me quer mal
Sorrindo a quem eu traí
Um pouco mais morto afinal

Eu volto à cena
Levando, sendo levado

Na espiral que me ilude
Por fazer parecer tudo tão igual
Tudo de novo

Quando nada acontece de novo
Nada se encerra

E eu sinceramente desconfio
Que saberemos jamais
Quem ganhou a batalha ou quem venceu a guerra

O que fazemos na Terra
Ou o que a Terra faz,

O que a Terra deseja e se ela planeja.
O que jaz na terra.
E onde é que a Terra jaz.

domingo, 12 de julho de 2009

oblivio accebit

E às vezes parece o fim estar perto
E o mundo implica em que se largue tudo e se comece
Tudo de novo
Como se o fim gerasse o novo

Ler um livro novo
Começar um´outra banda
E a menina que espera na esquina adiante

Nada que adiante

E o povo derrama gasolina
Na fogueira
E a epidemia de cegueira contamina

Não nego - sou cego - e eu pago para ver
Às vezes caro demais

São Tomé perdendo contato
com a realidade

Talvez a idade atrapalhe e de fato esteja perdendo a visão
Por miopia, astigmatismo, ou por cansaço

Eu carne
Eu não aço
Eu stigmato

Sigo
Pelo calor do tato
Errando um pouco em cada ato

Até por fim
Errar de fato

E eu sigo,
Vivendo por supor

E às vezes o fim parece estar certo
E dói o futuro ser incerto
Dói a ferida ainda aberta

Dói ter que acreditar
E ter que esperar
O sol nascer

Dgo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Porra Caralho!

Porra Caralho!
Se eu for colocar agora aqui na mesa o quanto eu valho
Ou eu não valho
Eu desisto ante essa falta de propósito toda

Eu digo - Que se foda!

E então que não valha nem o dia de ontem nem o dia de antemão
Que não valha o que o cérebro conceba
Mesmo que ele conceba
Um coração

E se a menina que eu não sei se é ou não é não
Sumiu e me deixou com essa dúvida
E qualquer outra dívida
Na mão

Ela não se saiba tão mulher
Nem seja tanto mais do que puder
Ser até ser de fato

Então...

Drigo

domingo, 17 de agosto de 2008

Rocket Boy

O menino estourou pela porta do carro
Cambaleou
Tropeçou
Mas não caiu

Ele riu mais do que todo mundo
Eu não ri, mas sorri orgulhoso

Ao ver o menino tropeçando

Pois tropeçar é preciso
E dizer “não”
É preciso dizer não

À precisão do passo
À falsa segurança que sequer nos livra
Do despudor do embaraço


E ninguém soube e nem jamais saberá
Que menino estava feliz
Talvez por saber que por um triz
Recuperou o passo
Desafiou o compasso e

Fez aquilo que faz o ser humano ao ser humano
Dizendo não a quem exige compreensão
-quem berra, perde a questão

Dizendo não assim
Ao terrorismo da razão
Fazendo compreender
O menino fez a si compreendido

Só isso faz sentido para quem vive a favor da vida

E eu sei que ele há de acordar por dias, infeliz,
E dolorido
Eu também hei, haveremos todos

Mas que saiba o menino e que eu não me esqueça
Que a vida recompensa
Quem faz ou quem fez
De acordo com o que se pensa

Quem respeita as estações
Quem não repete orações

Viver é uma forma de oração

Quando se permite tropeçar
Quando se aprende a dizer sim ao sim
E não ao não

Eu vi o menino estourando pela porta do carro
Na contramão
Se colocando ao quase-cair em sintonia com o que o universo conspirou

O que o viver de cada um acumulou
Até virar a sabedoria que se tangencia
Entre o anoitecer
E o raiar de um novo dia

E que se coloca disponível a quem se permite sonhar
A quem se permite não estar sempre tão certo
A quem respeita o incerto e entende que nem tudo é o que parece

Nem tudo o que sobe desce

Quem se atreve
A desafiar a gravidade

Sabe e entende
O que é ser leve

E que o menino releve e compreenda que sim de fato faz sentido
Sonhar acordado
Ser meio tarado e viver por um triz

Infeliz quem não espera que a vida o desafie
Naquilo que cegamente confie
Naquilo que sonhou
Naquilo que quis


Drigo

All I know is that I know nothing

E então
Eu páro e meus olhos fitam
Em busca de compreensão

E de tanto fitar se cansam a saber que,

Mais que meu querer
Mais do que entender
O que se fez
Ou não se fez

Ao completar-se um ano

Importa ser
Mais oceano
E aceitar-se errático
Por mais que eu me perceba

Matemático,

Eu aceito por fim
O inesperado, o acidental
E o poder subliminal
Da imaginação


Quem espera resposta ao calcular
Esquece-se de respirar e não se dá conta que

A matemática é mera linguagem
Imagem do verdadeiro, mas...
Não oferece solução

E o que importa na verdade
É que a falta de compreensão
Faz-me e faz a ti
Mais sãos.

E à cada peça que clama por outra peça
Para que encaixe

Eu digo não

E eu reconheço que isso incomoda e quase peço que me esqueçam
Pois me faz assim mais suportável esse cansaço
Eu que sou carne e não sou aço

Tanto penso
Tão pouco faço

Mas eu não me encaixo mesmo,
Eu sigo sendo
Ladeira abaixo
Por gravidade

F=m.a


Na física de quem raciocina

Como se a esquina
Oferecesse
A resposta

Como se a menina
Oferecesse
A resposta

Como se perguntar garantisse
Exata explicação

Eu digo de antemão
Que não há
Explicação

Por que se ama um homem
Ou uma mulher e o porquê
Da supremacia ocidental
Do garfo e faca

Sobre a colher

A compreensão é uma utopia
A alma humana é vagabunda e vadia
E aleatória

E a história uma invenção
Diz-se e se escreve o que se quer
E no fim ninguém entende
Por que se insiste
Na dor
Que contagia

Sofre tanto o filho da puta
Que a dor imputa
Quanto quem em busca de sentido

Dói na luta
Ao ser infligido

A dor gera sanidade
E a idade
Humana ou sobre-humana
Encaminha-nos

Na busca por verdade
Obvia a maldade em quem serve ao ego

A luz que não estimula no cego a visão

acalenta-lhe
O coração

Um conforto que transcende a compreensão
Faz-lhe intuir

Mais do que nós que vemos e,
Que por não ser esse poema em Braille

Aqui o lemos

Desatando os nós
Que uma vez desatados
Transformam-se

Em novos nós.
E faz-nos de tanto amor, desejo e inteligência.

Montes de pó em pró

Da angústia de uma ciência
Que tão pouco entende


E eu
Que pareço um louco
Ao admitir

Que sou tão pouco

Que sei tão pouco.

Me calo e deixo o sol nascer
O galo cantar
E o dia acontecer

Drigo

sábado, 2 de agosto de 2008

Dois de Agosto, Dois Mil e Oito, que foi assim.

O dia serenou quando meu pai chamou
E disse: Filho vamos tomar um pouco de sol
Teu coração aflito já levou pito e segurou o grito
Já desejou demais neste quarto escuro
Nessa tela de computador

Vamos para a rua
O sol segue brilhando e a lua
Vai refletir do mesmo jeito
Quer te aflijas
Quer não

Meu pai é um amigo que tenho
Meu pai é empenho em me amar
Meu pai serenou o meu coração
Num dia de cão
Que agora já parece até agradável

Eu tão pouco sociável
Há dias não sentia que a cidade
Ia acontecendo com a mesma indiferença
A cidade é uma fotografia

Quando você acha o sentido
Ela já não faz sentido
Quando tanto é dito por tanta gente
E tanto é mentido ou assumido como verdade
Fica difícil não generalizar e banalizar e marginalizar
Há de se justificar a cidade afinal

E tanto sentimento é oprimido por preguiça
De elaborar um pouco mais
Afim de que não se deixe pra trás
A chance de acontecer

E a vida não é só tristeza nem e só alegria
A vida se faz tropeçando
Parando
Recomeçando ao meio dia
Às três da tarde
Recomeçando por ordem das nuances, dos sorrisos inesperados
Recomeçando pois só a morte encerra
E a vida berra por redimir um dia de cão

Ainda que tardia
A vida clama por redenção

Minha sobrinha coroou a redenção deste dia
Ao me olhar um sorriso
Que sorri quem sabe que só o amor cria
Ela ama
Simplesmente ama e

Ela tem que crescer e ocupar espaço e para tanto
Seu instrumento é o amor
O seu desejo é amar

E agora o sol vai se por e a mente começa a divagar eu sou uma prece
A cortina desce
E é quando escurece que vejo
O quanto se quis

De tanto desejar eu me tornei desejo
Um beijo frustrado
Que agora
Neste momento sereno

Encontra a alegria em ouvir a menina aprendendo a falar
Ao saber-se possível
Perdoar
E se perdoar

Ao entender que o desejar não é assim tão ruim
O desejo ensina a amar
E a paciência com quem acha que pode mandar no dia ...
Há de haver paciência com quem pensa assim

E há de se saber que no fim das contas
Cada um com a sua razão

Mais vale um coração sereno
E a imensurável gratidão
A um pai que se chama devoção
E a um amigo que me deu a mão e cuidou do plano que não vai esvair
A uma criança que me impede de ir
A uma mãe que ama e supera tanta certeza
Transcende a razão que lhe é tão cara
Por que sente
Que a vida não pára
Que a harmonia é lapidada
Como uma jóia rara
Com muita aceitação
Com boa vontade
Com a serenidade que é um tapa de luva na cara de quem grita e exige explicação
Quem não corrompe o coração por medo ou vaidade
Recupera a paz, mantém a dignidade
E cala a boca suja da cidade que é uma entidade egocêntrica
Que por tanto demandar a coerência que lhe confere efêmero sentido
Acaba não respeitando ninguém.

Drigo

segunda-feira, 2 de junho de 2008

O Paradoxo do Perfeito

Um poema perfeito
Há de ser rápido
Cuspido ou vomitado
Deve ser doado ao mundo de qualquer jeito

Sem preconceito e sem conceito
Deve lidar com o abstrato como fato
O poeta literato
Deve ficar quieto quando lhe perguntam o “porquê” do que escreve

Deve abrir mão de fazer sentido
E deve orar a um deus que lhe permita
Jamais tocar o chão

O poeta verdadeiro
Deve queimar por inteiro
Pois poesia é combustão
Que é mais do que destino
É a nossa salvação

E acima de tudo há de se saber
Que o poema é o poeta
E que a perfeição é um conceito
Inatingível

Que o amor é ilegível
Que transcender é essencial
Que o que vemos é mundano

E que não há genes conhecidos
Para o espírito humano

Drigo

sábado, 24 de maio de 2008

Luau em Ocean Beach, 2am

É noite e o fogo e o mar e tanta cerveja
Que eu anseio voar
Olhando para um céu que só deus, dizem
Pode tocar e eu disse a deus que perdi as minhas asas
No ventre de minha mãe e em sonhos e orações

E em tardes bêbadas e noites como essa
Que mal posso lembrar e
Eu pedi a esse mesmo deus que devolvesse as minhas asas
Pois meus braços estão cansados

E hoje mais cedo
Eu e meus amigos estávamos
Batendo nossos braços
Tentando voar
Cansados
De tanto ejetar
Latas de cervejas de nossas mãos

Ao cosmo

Tentando voar
Tentando tocar deus e o céu e com tamanha religiosidade
Quem precisa de igreja?

Falando em línguas tão claras e óbvias sentindo-nos mais vivos
Mais do que nós mesmos
E por fim vomitando tanta vida sobre a calçada dura

Tentando conhecer deus
O universo tentando conhecer deus
Enquanto matamos uns aos outros por azeite e religião

Até que nossas asas finalmente se abram
E nos tornemos mais do que humanos
Pois ser humano não basta
Não basta quando eu olho para as estrelas e penso deus

Tudo o que eu queria
Era ser
Teu astronauta

Drigo

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Ao mal e ao bem que a Califórnia me fez

Eu espero pelo frio tudo o que eu quero é voltar pra casa
E eu digo isso por que eu não agüento mais ligar a cobrar pra dizer
Que todo mundo morre um pouco no decorrer de cada dia

E um outro pouco
A cada anoitecer

Morre sozinho,
Quase sem querer

E eu sei que cada chance de ter caído fora
Foi uma chance jogada fora
Eu espero pelo frio e eu pago para não sofrer
Eu pago sem querer

Eu não quero o que não seja meu, mas tudo bem
O merecer não é algo que eu queira discutir
Prefiro não merecer e partir

Eu tenho essa qualidade quase nada rara hoje em dia
De perder o controle e de apagar o que eu não quero
Na minha memória
De saber demais de história
Sem se dar conta
De que a história quem faz

Somos eu e você

E minha mente ainda está presa
Por sorte ou falta dela
No oeste da América do Norte
Presa demais

Ao mal e ao bem que a Califórnia me fez
a ainda e me faz

E a um passado que me traz a vontade a tona
Me faz querer a volta
Uma vontade que não me deixa em paz

E certa revolta ao perceber que
Eu sou diferente demais do viver desta cidade

Talvez eu devesse agir mais de acordo
Com minha idade com quem discorda
Com quem me dá pouca bola

Mas se tempo e espaço são de certa forma a mesma coisa
E se a vida é escola
Que mal há em se saber

Atemporal

Eu não sei como não o ser
E eu queria ter a capacidade afinal
De saber esquecer

Mas se for o caso
Eu caio fora de vez
E as coisas que ninguém fala que fez
Viram as coisas que só eu fiz

Eu espero contudo, que com o tempo
Você esqueça também
Que você conheça alguém
Que você seja feliz

Drigo

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Um semi-tom (ou menos)

Como música
Uma nota clama por outra
E depois
Por outra mais

E
Quando essas notas são menos
Prováveis
É quando eu gosto mais

Tipo,
Você batendo a minha porta
Às 4 da manhã

E demora sim uma vida ou duas
Para que se compreenda
Que não se precisa de comando ou direção
Quando se segue o chamado da natureza
Quando se escuta o coração

Mesmo que ele exija um bocado de tristeza
E demande
Andar na contramão

O chamado pede sim
Por um pecado ou dois
E por
Revolução

E pede por uma mente que transite livremente
Em qualquer dimensão
Afinal

Qualquer mente muito consciente facilmente entra num oceano de loucura e gozação
Por vinte e poucos reais
Mas os caminhos reais
Só trilha quem lida
Com tempo e forma de forma criativa

Quem vive a favor da vida
Ativando vida,
Por combustão e
Explosão

Drigo