quarta-feira, 11 de julho de 2007

Sobre os Galos, as Mães o Ópio e o Absinto

"A minha dor não é a digna e sobre-humana como a dor do pai que perde o filho,
E minha raiva não me consome pelo fato de não consumir-se em ato, mas sim por ser indigna de um filho de bom trato,
Mas confesso se não sei doer à dor do fato, sei doer por compaixão, e se não sei odiar sem culpa, então culpo o meu irmão”

Acordo-me frequentemente em meu sono atordoado ante o conflito que é a minha vida e culpo o galo,
que não tem hora pra cantar,
Uma vez estuprado em meu sono minha ocupação é odiar o galo, que por sua vez me ignora a raiva...
Vil estuprador!
Sou então sede de uma dor com a indignidade daqueles que sofrem por suposição, impotente numa sinuca de bico, O galo fecha o bico, não sofre menos o mundo com esse relato abstrato,
E continua assim a minha aflição

Enquanto dormem o pai, a mãe e o irmão, eu sigo doendo e odiando pelos cômodos da casa,
E a dor física me corta as asas da imaginação, me pondo louco,
Loucura, fruto podre da opressão...!

(Tempo para dar ao poema dramaticidade)(....)

Oh mãe! Guardas de mim o bálsamo que me alivia a dor!
Inocentemente guardas por amor ou pelo instinto
De seres mulher e exigires teu valor?
Eu te valorizo agora me faça um favor,
Transcenda o instinto,
Dá-me o ópio e o absinto!

Mas convenhamos que loucura é ser estuprado por uma ave ou culpar a mãe pelo sono perdido
Isso é desumano e sem sentido, afinal,
Não serão o amor na mulher e o canto no galo um mesmo instinto?
E talvez saibam as mães de fato qual é o fado do filho
E pedir ópio a mãe não é nada natural

Assim o é - para o desumano, que é um louco, só há uma salvação,
Dar-se conta da loucura em contexto completo
Compreender-se incompleto e buscar a humanidade
De modo concreto e como plena vocação

Oh preciosa compreensão que me silencia a alma
Acalma-me a culpa e me faz digno em minha dor
Busco a paz e a paz encontro mesmo enquanto em febre ardo,
Pelo fardo dos que dormem em paz concedida
A noite de sono perdida não é em vão e não deve ser ressentida
Agora sei que embora durmam os outros, essas marcas não são minhas,
Fui roubado de meu sonho por perceber a distorção
Cabe a mim então, que não me enlevo em inocência,
Denunciar ao mundo sua indecência, e fazer-me solução.

(Canta de novo o galo, o sono vem e aborta-se o poema).

Drigo

Sobre o Esperar ( Um Poema Quase Existencialista )

Imortal e imatura esperança
Impertinente ao acreditar, esvaindo-se na descrença.
De volta em loucos sonhos a me assombrar

Como se eu não soubesse que

Enraizadas em cada um de meus ossos
As desilusões de cada antepassado
As dores e os desenganos de
Cada um morto Costa, de cada enterrado Godoy

E que saibas, portanto e agora
Porque me sinto são em noites onde dói-me a alma
Desesperado em dias de calma e perdido ante um sorriso verdadeiro

E que saibas, portanto e agora,
Porque a cada meio que te aproximas

Eu movo-me inteiro

Faz-se já tempo que sei que os felizes se perdem em devaneio

Pois que seja então nosso destino esse jogo de esconde-esconde

Mas não me entendas mal, eu me vejo confuso ainda assim onde
me encontras tão vulnerável

A pensar...
O que é a vida senão ilusão
E não será a esperança por conclusão
Minha única conexão para com esse mundo?

É quando então me vês a bradar e a bramir entusiasmado:

Que sirva-nos a todos a tal da esperança!
E que nos permita ela mover, alcançar e atingir!
Porém,

Atingir o que, afinal?

Não será melhor viver na angústia
E andar no andar da humanidade?
Até que chegue a morte em toda sua crueldade
A dizer
Por tempo demais esperastes

Agora aquietas o coração e descanses
Estivestes certo na medida em que errastes!
E assim é a matemática da arrogância
Simples, mas incompleta,
Não satisfaz na medida em que é certa nesta ânsia por compreender

Mas, a cada pulsar do coração, a vida pára num instante de silêncio e me diz
Descanses a lógica nesta morte em brevidade
E tu, alma racional, aceites o sublime como por sorte e por verdade

Sabendo que.

No decorrer do seu tempo e a cada momento
Tivestes razão
Não mais que a metade das vezes,
Não mais que cinqüenta por cento


Drigo

sábado, 7 de julho de 2007

Gauche na Vida ( Para Drummond )

Meus olhos de oceano
Anseiam pelo dia
Em que o sol poente levara consigo
Cada lagrima contida,
Ardida, pois, e sofrida sim
Estão todas elas perpetuadas
Todas em mim

E a lua
Rasgará a bruma fugaz
Que me cobre alma antiga
Minha alma audaz
Mal compreendida, minha moral perdida
Já não importa mais...

E eu seguirei então,
Tal como Drummond,
gauche na vida.

Em desesperada busca por inocência
Eu superarei a decadência
Da riqueza material
Voltarei a mim, afinal

E, Entre cada sonho e cada manha insistente
Em delírio, persistente
Canso, danço e liberto a mente

E a cada vez que sou colírio
Perdão imploro
A olhos aos quais fui cloro ardente

Mas não duvide,
Sonharei ainda, em aventuras ciganas
Por possíveis dias de felicidade
E, Por possíveis fusões humanas
Na cama, no quarto...

E enquanto a cidade adormece e reclama
Sua própria identidade
Ciente eu sigo,
No mundo que conta dólar por dólar
E furacão por categoria
Eu crio o mundo inbetween

Meu mundo depende de mim
De minha fantasia
Alegoria por alegoria
Minuto a hora
Hora a dia
Sabendo que Deus é acima de tudo
Uma grande ironia

E o futuro da cultura reside
No sol nascente, no sarcasmo e no não saber
E a quem me faz curioso ofereço amizade
E a quem me faz parecer
Pouco, demais, nobre ou vil
Ou ainda ingênuo e indiferente.

Eu lhe enganei...
Primeiro de Abril
Sinto muito, mas meu tempo é acima de tudo
Preciosidade

Por quanto minh’alma ardente clama
Pelo corpo e pelo que o corpo chama
Arde
Pressente
Conclama

E eu vou a fundo,
acordo cedo
E durmo tarde
Não minto, eu tenho medo
Mas não sou sacana,
nem sou covarde

E a cada segundo iminente
O passado vem à tona como a por fim a tudo
Para cada Fiorento morreu um Jose
E a cada Joana um Rodrigo
A cada Mariah uma Duda

Assim é a matemática da vida
A cada alegria uma alegria ferida
Uma dor aguda, uma dor sentida

Mas a cada um mais, um dois e afinal,
Sigo sozinho
Mas solitário jamais
A guerra entre o bem e o mal não é minha
Não mais,

E se deus e o diabo brigam
Que me deixem em paz....

Escolho a melancolia
Pelos anos sessenta onde nem era vivo
E pelos setenta e pelos oitenta e pela inocência perdida em noventa e nove
O mundo move
E entre o bem e o mal, o senão
E entre o quadrado e o circulo, a espiral
O que parece obvio ao mundo automático
Ao mundo tolo, ao mundo industrial

Sobrenaturalmente padece ao abraço amigo
Meus olhos de oceano refletem o que carregam consigo
Entre o côncavo e o convexo, o que chamam Rodrigo
Vive,
Entre o verde e o azul profundo
As cores possíveis e as cores impossíveis do mundo
E as nuances sonhadas

Ah as nuances que eu vejo e quase ninguém vê,
Me fazem sobrevivente,

E o mundo que almejo
E que nesse momento te faz sorrir
É o mundo que mereces
O mundo que mereço
Pois que saibamos então
Que entre preces e preços
E entre o mundo dos anjos e
O mundo atroz

Vale escolher ficarmos bem
Valemos nós
Entre eles, elas, depois e agora e entre um e dois, três
Valemos mais sendo um mais um e mais um talvez

Minuto a hora,
Hora a dia
Dia a mês
E se somares doze, um ano
E se somares lagrima a lagrima contida

Um oceano
Trinta e dois anos,
Uma vida.

Drigo

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Sobre a Serenidade e o Querer ( Para Whitman )

Minha alma descansará esta noite
Ah como!
Anseio por sentir
Desejo descansar esta mente incansável
Desejo que a natureza me guie nos caminhos desta vida

E se ainda tenho esperanças
É, pois,
Não compartilho com os desejos desse mundo
Com o mundo dos homens e grupos de homens
Com o mundo dos livros e das leis e da linguagem

Meus padrões são os do oceano e da terra e são os padrões da atmosfera
Eu sou o rio que se mantém puro em seu curso
Sem saber
Que eu sou o resultados de resultados
Do clima e da gravidade
E que sou tormento tanto quanto
Serenidade

Trazendo vida aos campos que me cercam
Eu trago vida em mim
Vida em movimento, a expressão da vida

Eu sou a vida na forma de Homem
E eu sou vida feita à imagem da essência de toda vida
Ao passo que eu escolho abraçar a vida e vida criar

Não espero pela cura de meu corpo para fazê-lo
Visto que sou mais que minhas doenças e sou mais que minha saúde
Eu sou o Homem que escolhe o que é bom e o que é puro
E eu sou o Homem que não ensina e sequer é ensinado

E mesmo que meus pulmões mal respirem
E que meus olhos ardam
E que minha pele sufoque
Ainda assim o ar
Ainda assim a luz
Ainda assim a água

Anseiam todos por servir
O propósito da vida
O propósito de mim

Outros homens virão e julgarão
Outros homens virão a oferecer
Mas eu sou o Homem cujo coração silencia todas as vozes
E eu sou Homem que renega tudo o que não vem do coração

Enquanto as conversas poluem o ar
Eu sou a essência das folhas e das flores e do mato
E sim, eu compreendo de fato os meus erros.
E aceito a condição da cada um deles

Meus erros não me assombram e minha fraqueza não é mais de quem eu sou
E eu não sou daqueles que se esconde até sentir-se forte e sábio
E tampouco finjo ser forte ou sábio
Eu mostro a minha condição ao mundo e espero mais do que um simples concordar,
Um balançar de cabeças...

Eu espero uma mão amiga que me afague os cabelos
Um amigo que me alivie com palavras gentis
Mas ainda assim, não vou trocar carinho qualquer pela domesticação de meu amor

Sequer trocarei palavras gentis, mesmo ditas por bocas muito honestas por menos do que
Sinfonias de gratidão

Drigo

Poema para o Rio

Poema para o Rio:
Eu bebo copos e copos de café em salas ar condicionadas
Em tardes estúpidas e ensolaradas esperando ansiosamente por
Temporais anunciados no céu
Sento à janela
Fumo cigarros
E entre cigarros e trovoadas distantes e raios e copos
Eu, imóvel, penso
Eu imóvel, denso
Eu imóvel
Café passado
Café presente
Café futuro
Pela janela
A guerra travada entre o azul e o azul escuro
Entre o broto e o muro
Entre o músculo e o prematuro
Então chove
Chove incessantemente
Como se as cataratas do universo houvessem decidido
Pairar sobre minha casa
Como se os rios de deus desaguassem todos
Na minha rua
Rua Marquês de Olinda, Botafogo, Guanabara
Chove por dias
Eu sigo calado, um pouco morto um pouco derrotado,
Mas desistir jamais
Bandeira branca eu quero paz! – quanta balela
A paz não existe enquanto há tanta água
Tanta guerra
E quem sou senão esse corpo que resiste
Como limite ao turbilhão interior
E os planos
Ah meus planos
Pai de meus desenganos
Malditos planos
Que me deixam perdido
Nessa suposição de que existe o futuro e pior que o futuro
É esse tal do futuro do pretérito que me deixa louco
Seria, teria, iria, diria, faria
Mas o tempo passa e eu acabo não sendo
Não tendo, não indo, não dizendo o que queria
Fazendo pouco
Fazendo ao contrário à vida
Contra a corrente desse rio que corre
Pela epiderme, enchendo minhas veias
Escorrendo
Por meus braços, pernas, membros
Meus olhos na janela
Assustados
Mas bem abertos
Como olhos de criança
Curiosos
Tementes
Pelos sins e nãos que minha mãe ainda me diz
Sob o teto cada vez mais baixo de minha casa
Eu a vejo na frente da TV
Dizendo sim
Dizendo não
Alimentando-me
Vestindo-me
Eu o broto o muro
A janela o furo
Pelo qual espio
Eu Rio
Imóvel no meu canto fumo
Bebo cafés e cafés enquanto a água escorre
Deságua o mundo
E eu no fundo eu sei que não vale a pena
Mergulhar em vidas alheias
Eu sei que não vale a pena o futuro do passado
Essa maldita conjugação verbal
Nenhuma professora do primário secundário e do terceiro grau
Jamais compreendeu
O meu estupro cultural
Eu sigo o caminho do bem e o caminho do mal
E ela me pergunta o que eu faria se tivesse 6 meses de vida e eu a digo
Que eu correria
Minhas pernas contra o ar
Como locomotiva
Na contramão do mundo
Mas não por muito tempo
Pois para reinar sobre o tempo
Basta saber-me atemporal
E então mesmo assim tão mal
Eu acho uma saída
No sitio do pica-pau de minha vida
Pirlimpimpim e eis aqui
A minha ressurreição
Chove escorre o rio deságua
Eu janela broto muro azul escuro tudo escuro nasce desce prematuro
Cede o músculo
Eu, Rio
Eis aqui
A minha ressurreição
Rodrigo Barata

Sobre o Norte e o Sul

Grandes impávidos colossos
Desilusões austrais e boreais
Deixemo-nos ir

Ir, vir, ficar e deixar.
São tantas desculpas para o agora e o aqui
Onde tudo virou lembrança
De onde o concreto não oprime quase tudo

E eu, distante não sinto, nem sou sentido.

De tanto ver, sou cego.
De tanto dizer sou mudo
De tanto oprimir, oprimido.

Perdido em mim
Entre duas terras e tanta gente indiferente

E o diferente e o igual são sombra e luz
Ao norte e ao sul, num código binário.
A ilusão de que sol desce ao contrário nos dois extremos dessa cruz

Perpetua o mito
Perpetuando a situação

E se ao norte se pára o tempo
E viver é fingir de viver
Ao sul o tempo pára
E clama-se o sentir, sem perceber.

Sem perceber que a gente diz que sente

Mas reclama do menino no sinal
Desmentindo a beleza nacional
Entre o ideal e o horror, ao meio.
Grita aos olhos que o Brasil é feio

Mas o que é o belo, afinal?

A diferença e a indiferença relativa, - há sempre alguém na contramão.
Na guerra que mata silenciosamente por azeite e religião
E na tragédia do menino em exclusão social

E se ao norte a ordem urbana mascara o que não mascara
Nossa feiúra marginal
E a ostentação arquitetônica impressiona a alma arredia
A ostentação do carnaval engana ao sul nossa barriga vazia

No final seguimos, engolindo a seco ou chorando um pranto.
Formigas sob um mesmo céu, num mesmo manto e véu de hipocrisia.

Culpando o imperialismo, a ordem mundial.
Culpando a falta de caráter humano como pecado capital

Culpando o menino do sinal…

Culpando por um segundo, pois o sinal abriu.
E o menino imundo não ruiu seu mundo, nem o meu.
Nem mundo algum

Sumiu perdido no momento.
Enquanto as oito em ponto, a novela berra na teve.
Ensurdecendo-nos do menino o lamento

Ao passo que ao norte, há mesma hora – a previsão do tempo importa mais que o menino em Bagdá.

“Terra desenvolvida, terra em desenvolvimento”.

Onde foram dormir os meninos?

Eu berro longe e logo berrarei perto ao seu ouvido
Pois vim ver o que não via com o coração atrofiado e corrompido

Pela educação suja pelo militarismo na America Latina
(Obrigado colégio São Bento e obrigado aos covardes de botina).

Vim, cego e surdo achando aqui ser melhor.
Mas cá estou para dizer aos cegos e mostrar aos surdos
Com a mente aberta e a boca aberta eu digo:

-É ruim, talvez pior, mas nem tão diferente.

Porem dói agora perceber o menino e minha gente.

Andando com medo quando anoitece
Deixando de sonhar quando anoitece

Drigo

LAX - Guarulhos ( o fim de um sonho americano )

No ventre do planeta o fogo queima
calado e sempre e na superfície,
a gente surda com olhos que só olham para frente,
e corações que sentem para trás,
vive em desatino
e desatino é seu destino
num complexo capital de superioridade
em uma busca efêmera por felicidade
caminham em manhãs que amanhecem em ansiedade
dirigem carros por cidades e voam em aviões apertados
Buscando sentido
Respirando o ar rarefeito
E do alto se vê as luzes do artifício
E o horizonte desafiando o raciocínio em pores do sol
Com seus drásticos efeitos
No centro o fogo queima
Por dentro o fogo queima
Em volta tudo é silêncio
como num vácuo entre
O sublime e o banal

Drigo

De Onde Nascem os Bons Pensamentos

De onde partem os bons pensamentos
As cores e as dores se confundem
E os ponteiros não marcam sem que as estações mudem
De onde se faz a música
Nascem os bons pensamentos
Lá valem os momentos
Vale a vida lúdica
Não há separação onde brotam os bons pensamentos
Floresce-se em união com o tempo
O homem unido ao pensamento
Num momento
Como música
Em sintonia única
Sentimento e forma
Dão norma que se esvai no momento seguinte

Num constante esquecimento
Retorna o artista facilmente a onde nascem os pensamentos

Drigo