Grandes impávidos colossos
Desilusões austrais e boreais
Deixemo-nos ir
Ir, vir, ficar e deixar.
São tantas desculpas para o agora e o aqui
Onde tudo virou lembrança
De onde o concreto não oprime quase tudo
E eu, distante não sinto, nem sou sentido.
De tanto ver, sou cego.
De tanto dizer sou mudo
De tanto oprimir, oprimido.
Perdido em mim
Entre duas terras e tanta gente indiferente
E o diferente e o igual são sombra e luz
Ao norte e ao sul, num código binário.
A ilusão de que sol desce ao contrário nos dois extremos dessa cruz
Perpetua o mito
Perpetuando a situação
E se ao norte se pára o tempo
E viver é fingir de viver
Ao sul o tempo pára
E clama-se o sentir, sem perceber.
Sem perceber que a gente diz que sente
Mas reclama do menino no sinal
Desmentindo a beleza nacional
Entre o ideal e o horror, ao meio.
Grita aos olhos que o Brasil é feio
Mas o que é o belo, afinal?
A diferença e a indiferença relativa, - há sempre alguém na contramão.
Na guerra que mata silenciosamente por azeite e religião
E na tragédia do menino em exclusão social
E se ao norte a ordem urbana mascara o que não mascara
Nossa feiúra marginal
E a ostentação arquitetônica impressiona a alma arredia
A ostentação do carnaval engana ao sul nossa barriga vazia
No final seguimos, engolindo a seco ou chorando um pranto.
Formigas sob um mesmo céu, num mesmo manto e véu de hipocrisia.
Culpando o imperialismo, a ordem mundial.
Culpando a falta de caráter humano como pecado capital
Culpando o menino do sinal…
Culpando por um segundo, pois o sinal abriu.
E o menino imundo não ruiu seu mundo, nem o meu.
Nem mundo algum
Sumiu perdido no momento.
Enquanto as oito em ponto, a novela berra na teve.
Ensurdecendo-nos do menino o lamento
Ao passo que ao norte, há mesma hora – a previsão do tempo importa mais que o menino em Bagdá.
“Terra desenvolvida, terra em desenvolvimento”.
Onde foram dormir os meninos?
Eu berro longe e logo berrarei perto ao seu ouvido
Pois vim ver o que não via com o coração atrofiado e corrompido
Pela educação suja pelo militarismo na America Latina
(Obrigado colégio São Bento e obrigado aos covardes de botina).
Vim, cego e surdo achando aqui ser melhor.
Mas cá estou para dizer aos cegos e mostrar aos surdos
Com a mente aberta e a boca aberta eu digo:
-É ruim, talvez pior, mas nem tão diferente.
Porem dói agora perceber o menino e minha gente.
Andando com medo quando anoitece
Deixando de sonhar quando anoitece
Drigo