quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Aconteceu no último dia de 2008

O sol queimava resquícios de um ano e a cidade vazia e o lixo do natal. Um garoto limpava a rua, insuspeito da própria resignação. Veio o carro, negro e novo. Dentro dele, ela, inimiga do povo. A mulher, no volante e com a mão na buzina. O corpo humano, feminino limitando dentro de si um universo de frustrações. No último dia do ano, a mulher, ao volante, não enxergou no garoto um humano, e buzinou uma incoerência que me doeu os ouvidos, exigindo que o garoto retirasse o lixo de seu caminho, para que ela pudesse estacionar.

Pobre mulher, que sem pensar deve ter se assustado ao se dar conta de sua pequeneza. Dentro do carro se sentindo realeza ouviu de mim o insulto bem colocado, lhe pondo nua no meio da rua, com seus quilos a mais de educação pequeno burguesa.

Aprendamos Brasil, a viver em sinergia. Aprendamos Brasil que a verdadeira alegria consiste na compaixão. De carnavais, Brasil, não se constrói uma Nação.

Criciúma, 31 de dezembro de 2008.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Hangover 9am

Eu escuto eu vejo eu mastigo
Cuspo o que não digiro
Vomito quando tudo é demais
E então me coloco de castigo

Acordo com sede doído cheirando parede

E é quando tudo fica chato e sem graça e
Eu perco a graça na frente do espelho
Eu perco a vontade na frente do espelho
E eu perco a fé

Mas então yeah yeah yeah,

Por milagrosa insistência
Eu acordo por decisão
E ser passa ser questão

crucial

Eu metade ar metade animal
Um pouco de tudo o que há por aí
Volto à cena

Sorrindo a quem me quer mal
Sorrindo a quem eu traí
Um pouco mais morto afinal

Eu volto à cena
Levando, sendo levado

Na espiral que me ilude
Por fazer parecer tudo tão igual
Tudo de novo

Quando nada acontece de novo
Nada se encerra

E eu sinceramente desconfio
Que saberemos jamais
Quem ganhou a batalha ou quem venceu a guerra

O que fazemos na Terra
Ou o que a Terra faz,

O que a Terra deseja e se ela planeja.
O que jaz na terra.
E onde é que a Terra jaz.