O sol queimava resquícios de um ano e a cidade vazia e o lixo do natal. Um garoto limpava a rua, insuspeito da própria resignação. Veio o carro, negro e novo. Dentro dele, ela, inimiga do povo. A mulher, no volante e com a mão na buzina. O corpo humano, feminino limitando dentro de si um universo de frustrações. No último dia do ano, a mulher, ao volante, não enxergou no garoto um humano, e buzinou uma incoerência que me doeu os ouvidos, exigindo que o garoto retirasse o lixo de seu caminho, para que ela pudesse estacionar.
Pobre mulher, que sem pensar deve ter se assustado ao se dar conta de sua pequeneza. Dentro do carro se sentindo realeza ouviu de mim o insulto bem colocado, lhe pondo nua no meio da rua, com seus quilos a mais de educação pequeno burguesa.
Aprendamos Brasil, a viver em sinergia. Aprendamos Brasil que a verdadeira alegria consiste na compaixão. De carnavais, Brasil, não se constrói uma Nação.
Criciúma, 31 de dezembro de 2008.