A noite cai
Imóvel eu presencio o movimento
Dos pássaros que voam baixo
Das pessoas que falam e andam e abrem portas
Das cores que perdem o brilho e ganham mistério
Eu ouço o telefone, as vozes, os carros
Imóvel eu sinto o movimento
Ao redor e dentro
Dentro
O medo espia e eu acendo a luz
A dor brota e eu piso e esmago
Eu calo, o corpo berra
Dentro, uma guerra
Corpos e anticorpos
Pensamentos e sentimentos
Ao redor,
Berra a cidade, incoerente
Pisando, esmagando
E sob a nevoa densa da mediocridade
Acende a luz e se entorpece
Escondendo as estrelas
Escondendo-se de si
Faz uma prece
E entre o bem e o mal
Segue indiferente
Entre o bem e o mal
Esquece-se o essencial
E segue a cidade, doente
E ante meus olhos perpetua-se esse espetáculo de indecência
Imóvel, aparentemente
Eu sou turbilhão, eu sou um universo
Mas distante e opaco, perdido em devaneios
Sou pedra a olhos alheios
E as pessoas deitam e calam e fecham portas
E com certa dose de medicamento
Adormecem toda a culpa e ressentimento
A mim, elas sim - parecem mortas
Livres de suas dores e de seus amores
Somem na escuridão das cores
E parece que a cidade,inerte, me dispensa
Dorme Perdida em sonhos que não são meus
E assim noite abriga as dores do mundo
Mas o conforto acomoda a ilusão
Que toma consigo minhas vis defesas
E abre as travas da prisão
Me vejo vulnerável, e
O medo vem forte e rápido
Alimentando a dor que cresce e sufoca
A febre queima e a vida implora
De mim uma atitude
Meu coração bate alto e rompe o silencio
Acorda meus instintos
As mãos movem
Fieis
Respondem ao clamor da vida
Eu sou então movimento
E explodindo sobre a tela
Sem contenção
Escrevo sobre o que sei e o que não sei
Eu sou a febre do mundo
Na escuridão do silencio que brota e eu esmago
E no turbilhão da dor que some em luz
Eu sou pai filho e o espírito santo
E a mãe em pranto ao pé da cruz
Drigo