sexta-feira, 6 de julho de 2007

Metanfetamina, 6pm


A noite cai

Imóvel eu presencio o movimento

Dos pássaros que voam baixo

Das pessoas que falam e andam e abrem portas

Das cores que perdem o brilho e ganham mistério

Eu ouço o telefone, as vozes, os carros

Imóvel eu sinto o movimento

Ao redor e dentro

Dentro

O medo espia e eu acendo a luz

A dor brota e eu piso e esmago

Eu calo, o corpo berra

Dentro, uma guerra

Corpos e anticorpos

Pensamentos e sentimentos

Ao redor,

Berra a cidade, incoerente

Pisando, esmagando

E sob a nevoa densa da mediocridade

Acende a luz e se entorpece

Escondendo as estrelas

Escondendo-se de si

Faz uma prece

E entre o bem e o mal

Segue indiferente

Entre o bem e o mal

Esquece-se o essencial

E segue a cidade, doente

E ante meus olhos perpetua-se esse espetáculo de indecência

Imóvel, aparentemente

Eu sou turbilhão, eu sou um universo

Mas distante e opaco, perdido em devaneios

Sou pedra a olhos alheios

E as pessoas deitam e calam e fecham portas

E com certa dose de medicamento

Adormecem toda a culpa e ressentimento

A mim, elas sim - parecem mortas

Livres de suas dores e de seus amores

Somem na escuridão das cores

E parece que a cidade,inerte, me dispensa

Dorme Perdida em sonhos que não são meus

E assim noite abriga as dores do mundo

Mas o conforto acomoda a ilusão

Que toma consigo minhas vis defesas

E abre as travas da prisão

Me vejo vulnerável, e

O medo vem forte e rápido

Alimentando a dor que cresce e sufoca

A febre queima e a vida implora

De mim uma atitude

Meu coração bate alto e rompe o silencio

Acorda meus instintos

As mãos movem

Fieis

Respondem ao clamor da vida

Eu sou então movimento

E explodindo sobre a tela

Sem contenção

Escrevo sobre o que sei e o que não sei

Eu sou a febre do mundo

Na escuridão do silencio que brota e eu esmago

E no turbilhão da dor que some em luz

Eu sou pai filho e o espírito santo

E a mãe em pranto ao pé da cruz

Drigo