E então
Eu páro e meus olhos fitam
Em busca de compreensão
E de tanto fitar se cansam a saber que,
Mais que meu querer
Mais do que entender
O que se fez
Ou não se fez
Ao completar-se um ano
Importa ser
Mais oceano
E aceitar-se errático
Por mais que eu me perceba
Matemático,
Eu aceito por fim
O inesperado, o acidental
E o poder subliminal
Da imaginação
Quem espera resposta ao calcular
Esquece-se de respirar e não se dá conta que
A matemática é mera linguagem
Imagem do verdadeiro, mas...
Não oferece solução
E o que importa na verdade
É que a falta de compreensão
Faz-me e faz a ti
Mais sãos.
E à cada peça que clama por outra peça
Para que encaixe
Eu digo não
E eu reconheço que isso incomoda e quase peço que me esqueçam
Pois me faz assim mais suportável esse cansaço
Eu que sou carne e não sou aço
Tanto penso
Tão pouco faço
Mas eu não me encaixo mesmo,
Eu sigo sendo
Ladeira abaixo
Por gravidade
F=m.a
Na física de quem raciocina
Como se a esquina
Oferecesse
A resposta
Como se a menina
Oferecesse
A resposta
Como se perguntar garantisse
Exata explicação
Eu digo de antemão
Que não há
Explicação
Por que se ama um homem
Ou uma mulher e o porquê
Da supremacia ocidental
Do garfo e faca
Sobre a colher
A compreensão é uma utopia
A alma humana é vagabunda e vadia
E aleatória
E a história uma invenção
Diz-se e se escreve o que se quer
E no fim ninguém entende
Por que se insiste
Na dor
Que contagia
Sofre tanto o filho da puta
Que a dor imputa
Quanto quem em busca de sentido
Dói na luta
Ao ser infligido
A dor gera sanidade
E a idade
Humana ou sobre-humana
Encaminha-nos
Na busca por verdade
Obvia a maldade em quem serve ao ego
A luz que não estimula no cego a visão
acalenta-lhe
O coração
Um conforto que transcende a compreensão
Faz-lhe intuir
Mais do que nós que vemos e,
Que por não ser esse poema em Braille
Aqui o lemos
Desatando os nós
Que uma vez desatados
Transformam-se
Em novos nós.
E faz-nos de tanto amor, desejo e inteligência.
Montes de pó em pró
Da angústia de uma ciência
Que tão pouco entende
E eu
Que pareço um louco
Ao admitir
Que sou tão pouco
Que sei tão pouco.
Me calo e deixo o sol nascer
O galo cantar
E o dia acontecer
Drigo