sábado, 2 de agosto de 2008

Dois de Agosto, Dois Mil e Oito, que foi assim.

O dia serenou quando meu pai chamou
E disse: Filho vamos tomar um pouco de sol
Teu coração aflito já levou pito e segurou o grito
Já desejou demais neste quarto escuro
Nessa tela de computador

Vamos para a rua
O sol segue brilhando e a lua
Vai refletir do mesmo jeito
Quer te aflijas
Quer não

Meu pai é um amigo que tenho
Meu pai é empenho em me amar
Meu pai serenou o meu coração
Num dia de cão
Que agora já parece até agradável

Eu tão pouco sociável
Há dias não sentia que a cidade
Ia acontecendo com a mesma indiferença
A cidade é uma fotografia

Quando você acha o sentido
Ela já não faz sentido
Quando tanto é dito por tanta gente
E tanto é mentido ou assumido como verdade
Fica difícil não generalizar e banalizar e marginalizar
Há de se justificar a cidade afinal

E tanto sentimento é oprimido por preguiça
De elaborar um pouco mais
Afim de que não se deixe pra trás
A chance de acontecer

E a vida não é só tristeza nem e só alegria
A vida se faz tropeçando
Parando
Recomeçando ao meio dia
Às três da tarde
Recomeçando por ordem das nuances, dos sorrisos inesperados
Recomeçando pois só a morte encerra
E a vida berra por redimir um dia de cão

Ainda que tardia
A vida clama por redenção

Minha sobrinha coroou a redenção deste dia
Ao me olhar um sorriso
Que sorri quem sabe que só o amor cria
Ela ama
Simplesmente ama e

Ela tem que crescer e ocupar espaço e para tanto
Seu instrumento é o amor
O seu desejo é amar

E agora o sol vai se por e a mente começa a divagar eu sou uma prece
A cortina desce
E é quando escurece que vejo
O quanto se quis

De tanto desejar eu me tornei desejo
Um beijo frustrado
Que agora
Neste momento sereno

Encontra a alegria em ouvir a menina aprendendo a falar
Ao saber-se possível
Perdoar
E se perdoar

Ao entender que o desejar não é assim tão ruim
O desejo ensina a amar
E a paciência com quem acha que pode mandar no dia ...
Há de haver paciência com quem pensa assim

E há de se saber que no fim das contas
Cada um com a sua razão

Mais vale um coração sereno
E a imensurável gratidão
A um pai que se chama devoção
E a um amigo que me deu a mão e cuidou do plano que não vai esvair
A uma criança que me impede de ir
A uma mãe que ama e supera tanta certeza
Transcende a razão que lhe é tão cara
Por que sente
Que a vida não pára
Que a harmonia é lapidada
Como uma jóia rara
Com muita aceitação
Com boa vontade
Com a serenidade que é um tapa de luva na cara de quem grita e exige explicação
Quem não corrompe o coração por medo ou vaidade
Recupera a paz, mantém a dignidade
E cala a boca suja da cidade que é uma entidade egocêntrica
Que por tanto demandar a coerência que lhe confere efêmero sentido
Acaba não respeitando ninguém.

Drigo