terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Lastro

Com calma eu sigo
Menos ingênuo e mais amigo
A alma expande e eu dou abrigo
Ao Rodrigo que hoje estou

E sou
Nada mais do que sobrou
Da última explosão

Quando de estrela eu fui ao chão
E como Adão da terra fui moldado
Feito homem e soldado

Feito herói e filho da puta

Apto a luta, pois só assim se há de ser quando a vida é incerta
Eu sigo sozinho - minha costela ferida aberta
E adiante a floresta é negra e densa

Mas quem pensa demais não entra e age pouco
Ou pior, vive em reação
Não deixa rastro, vive infeliz e acaba louco

Em autocombustão

Por isso eu sigo
De peito aberto e espada em punho -
Minha moeda eu cunho -
Que minha vida sirva de lastro

E que se agregue o valor devido
A cada dor sentida
A cada coração apunhalado
Por uma promessa não cumprida

Eu sigo sereno e quando o dia vira noite e o ar se torna ameno
Eu paro por um lamento, pois sou humano e há momento para tudo
E é preciso beber água para que a mágoa não me consuma

Para que a mágoa não me Criciúma

E é quando,

Eu sento ao lado de meu inimigo
E lhe digo que sinto não por remorso
Mas sim por compaixão

Só assim posso seguir em frente
Mente a si mesmo quem oscila entre o ódio e a culpa
É no sentir a dor alheia que reside a sanidade
Não importa a idade a sanidade é atemporal

E eu sigo calmo, entre o bem e o mal
Transito livremente porque estou leve sei que a vida
É breve
Demais

Para que eu me perca ou me esconda ou atole
Água mole em pedra dura; por hora
Antes que fure
Evapora

E assim eu sei que talvez não seja nessa vida
Que eu receba compreensão ou os louros
Que já nem sei se quero mais

Talvez eu morra sem que encontre a minha paz
E o que eu deixe seja mera fotografia de uma luta
E talvez essa fotografia pareça um tanto insana

A verdade expõe - por definição - a tragédia humana
E que valha a pena tamanha exposição

Que eu conte história ou até inspire reflexão
Depois que eu expire e volte a terra e o vento leve
Num mesmo sopro que me criou

A vida é breve e a alma cresce e dá abrigo a quem eu amo
E ao que sou

Um Rodrigo que é mais que a soma de suas partes
Mais que o jogo de suas sortes
Mais que o mosaico de suas artes


Rodrigo Barata 01/dez 09

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Aconteceu no último dia de 2008

O sol queimava resquícios de um ano e a cidade vazia e o lixo do natal. Um garoto limpava a rua, insuspeito da própria resignação. Veio o carro, negro e novo. Dentro dele, ela, inimiga do povo. A mulher, no volante e com a mão na buzina. O corpo humano, feminino limitando dentro de si um universo de frustrações. No último dia do ano, a mulher, ao volante, não enxergou no garoto um humano, e buzinou uma incoerência que me doeu os ouvidos, exigindo que o garoto retirasse o lixo de seu caminho, para que ela pudesse estacionar.

Pobre mulher, que sem pensar deve ter se assustado ao se dar conta de sua pequeneza. Dentro do carro se sentindo realeza ouviu de mim o insulto bem colocado, lhe pondo nua no meio da rua, com seus quilos a mais de educação pequeno burguesa.

Aprendamos Brasil, a viver em sinergia. Aprendamos Brasil que a verdadeira alegria consiste na compaixão. De carnavais, Brasil, não se constrói uma Nação.

Criciúma, 31 de dezembro de 2008.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Hangover 9am

Eu escuto eu vejo eu mastigo
Cuspo o que não digiro
Vomito quando tudo é demais
E então me coloco de castigo

Acordo com sede doído cheirando parede

E é quando tudo fica chato e sem graça e
Eu perco a graça na frente do espelho
Eu perco a vontade na frente do espelho
E eu perco a fé

Mas então yeah yeah yeah,

Por milagrosa insistência
Eu acordo por decisão
E ser passa ser questão

crucial

Eu metade ar metade animal
Um pouco de tudo o que há por aí
Volto à cena

Sorrindo a quem me quer mal
Sorrindo a quem eu traí
Um pouco mais morto afinal

Eu volto à cena
Levando, sendo levado

Na espiral que me ilude
Por fazer parecer tudo tão igual
Tudo de novo

Quando nada acontece de novo
Nada se encerra

E eu sinceramente desconfio
Que saberemos jamais
Quem ganhou a batalha ou quem venceu a guerra

O que fazemos na Terra
Ou o que a Terra faz,

O que a Terra deseja e se ela planeja.
O que jaz na terra.
E onde é que a Terra jaz.

domingo, 12 de julho de 2009

oblivio accebit

E às vezes parece o fim estar perto
E o mundo implica em que se largue tudo e se comece
Tudo de novo
Como se o fim gerasse o novo

Ler um livro novo
Começar um´outra banda
E a menina que espera na esquina adiante

Nada que adiante

E o povo derrama gasolina
Na fogueira
E a epidemia de cegueira contamina

Não nego - sou cego - e eu pago para ver
Às vezes caro demais

São Tomé perdendo contato
com a realidade

Talvez a idade atrapalhe e de fato esteja perdendo a visão
Por miopia, astigmatismo, ou por cansaço

Eu carne
Eu não aço
Eu stigmato

Sigo
Pelo calor do tato
Errando um pouco em cada ato

Até por fim
Errar de fato

E eu sigo,
Vivendo por supor

E às vezes o fim parece estar certo
E dói o futuro ser incerto
Dói a ferida ainda aberta

Dói ter que acreditar
E ter que esperar
O sol nascer

Dgo.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Porra Caralho!

Porra Caralho!
Se eu for colocar agora aqui na mesa o quanto eu valho
Ou eu não valho
Eu desisto ante essa falta de propósito toda

Eu digo - Que se foda!

E então que não valha nem o dia de ontem nem o dia de antemão
Que não valha o que o cérebro conceba
Mesmo que ele conceba
Um coração

E se a menina que eu não sei se é ou não é não
Sumiu e me deixou com essa dúvida
E qualquer outra dívida
Na mão

Ela não se saiba tão mulher
Nem seja tanto mais do que puder
Ser até ser de fato

Então...

Drigo