segunda-feira, 17 de março de 2008

Sobre o Esperar III

A esperança se disfarça em
Memórias do que ainda não vivi
Chega e me enfia hoje a faca do futuro na garganta e diz:
-De nada adianta fingir
Que o homem que sou não foi moldado pelo menino que nasci

Ou fingir que os meus planos são destino
Ou que vivi em desatino sem saber onde ia dar
E é, pois então que prefiro dar
A esperança o título
De inimiga mortal que me coloca de joelhos
E me faz implorar por piedade
Desculpar-te de tua maldade
E escutar os conselhos de quem é tão vazio

E a esperança me pariu
Sabendo-me não durar
E sabe ainda que as memórias que hão de vir
Apagar-se-ão
E que será assim definitivamente em vão

Esperar
Enganar a consciência de que
O que sonhei
Fora sempre e para sempre será
Destruído pela conseqüência do fui, pelo que hoje sou e pelo que não serei
Em dias que não sei

Até que o fim derradeiro que me queimará por inteiro
E que não me porá novo jamais
Devolva-me enfim a paz
E nada mais então será dito ou escrito sobre mim

A não ser “aqui jaz o maldito”
Que por tanto esperou
E que em tanto acreditou veementemente
A cada sol nascente

Devia ter tão somente bastado o conforto
Do abraço amigo
O deslumbre com sol poente
Devia ter bastado cerveja na mesa do bar
Devia ter bastado a música

E a ilusão de ter sido desejado
A cada desejar

Drigo