Meus demônios juntam-se a mim
E agora que chego perto do fim
Aceleram meus sentidos
Chegam calados
Abraçando meus pecados
Estão ao meu lado
A dizer
Logo tudo acabará
Ao passo que eu percebo
A névoa que a morte prenuncia
Ao raiar de um dia
Que não durará
Num último ato de desespero
Eu vôo alto, me esmero
Tentando não pousar
E fico ali pairando
Sobre as nuvens
Onde o bem estar ainda é
Onde possa esquecer
Onde possa ter fé
Mais sei, contudo
Que tudo um dia cai ninguém paira pra sempre
Que não se vive impunemente
E que crimes perfeitos não existem
Nem os que cometemos
Nem os que cometem com a gente
O universo não mente
Meus demônios são reais
Meus amores são jamais
E a morte é por demais
Iminente e sagaz
Drigo
terça-feira, 22 de abril de 2008
Sobre os Anjos, A Vida e Algo Mais
Um anjo me visita na cama
Às 5 horas da manhã
O que dizer a um anjo?
“Meu anjo eu tenho febre e eu estou
um pouco excitado e desordenado
Eu Não tenho para onde ir
E preciso Dormir
Para que eu possa então acordar
E seguir meu caminho
Meu anjo eu estou em pedaços
Cocaina e Vinho
Virado
E revirado
Numa semana insone e não há nada de bom que emane
Nesta situação
E meu anjo se há um sentido
Lembre-se que eu sempre acabo perdendo
A direção
E é assim que eu
Reviro um verso
Ao inverso e faço dele ainda
Um verso perfeito
Um verso que possa ser lido
Por qualquer um
De qualquer jeito
E que não reflita certeza alguma
Mas tão somente certa tristeza
Que emana de mim que de tão certamente triste
Emano uma triste beleza
E acabo sendo assim exaltado por ser tão
Fragmentado
Exaltam-me a segregação!
Sordidamente
Assim como exaltam meus amigos
De outra dimensão
É certo que são inofensivos
Não são nocivos
Como os inimigos que navegam por perto
A estes eu digo:
Esqueçam-me por certo!
Digo, porque a inimigo não se pede
Deixa-se que lhe saibam sede de uma beleza
Que não enxergam em si
Mas meu anjo,
Entre os amigos mortos e os inimigos vivos
Prefiro os vivos
Com quem interajo
Meu espírito é imediato
E o ato com quem já morreu
Não me atrai
Meu anjo,
Deixem-me ser vivo e andar com os vivos
Com seus corpos e almas e com os seus motivos
Prefiro assim
E prefiro sim a vida à posteridade
Por piores que sejam as dores em dias que detesto
A idade me faz querer viver com os melhores
Já que morrerei como o resto
Prefiro ainda doer com ardor
A andar atrás do dinheiro que não saberia sequer
Onde pôr
Eu que não encontro o amor
Não mais me iludo
Por um prêmio que não é meu ou
Por quem neste mundo
Como eu já se perdeu
Sabemos nós
Que há algo de ingrato num desejo concedido
E que por isso todo amor seja
Talvez por essência
Mal resolvido
E ainda que me emocione e por vezes
Até chore
Eu no geral aborreço
E sou aborrecido
E me admiram eu sei
Por ser um pouco de tudo
E um muito de nada
Admiram-me pelo que não sou e por acharem que sei sobre o mundo
O que na verdade não sei
Ou talvez,
Por ter o corpo aberto
Por ter a alma alerta
E por saber ser correto na hora errada
E errado
Na hora mais certa
Drigo
segunda-feira, 7 de abril de 2008
Sobre o Galo, a Terceira Idade e o Odiar
O canto do galo invade novamente o meu sono e atua em meu sonho afastando os elementos de seu lugar mais natural. E, embora eu saiba que o galo canta por instinto, e não age contra a mim, a ordem jurídica e política ou moral - acordo mal.
O pobre galo não é mau, nem é nada. Ele não cria nem destrói sociedades, ele não ameaça nem oferece salvação. Ave burra e sem requinte que não se lembra do momento anterior nem planeja o momento seguinte.
Meu vizinho, sim - ao alto de seus oitenta e tantos anos, possui a faculdade de lembrar e planejar. Ele é presumidamente uma estrutura organizacional superior ao galo, que, embora envelhecida e enrijecida por uma vida de desamor, é sem dúvida capaz de calcular o peso da dor.
E é capaz inclusive de pensar filosoficamente, sendo, portanto, embora um tanto decadente, capaz de criar e fazer o bem. Mas o velho, que já não prestava quando era neném, escolheu ser daqueles velhos capazes de fazer um inferno da vida da gente.
Meu vizinho que não presta embora pudesse prestar não goza daquilo que terceira vida, a vida mística e religiosa lhe permitiria gozar. Ao alto de seus oitenta e tantos anos, quando a vida se esmera em distingui-lo do simplesmente humano, ele vive ao contrário da vida.
Livre dos afetos e das paixões, esse monte de carne e ossos não busca a sublimação, desconhece o que João chamou de o segundo espírito, e com um galo no quintal, projeta a mim todo o mal, por ser mau ou por talião – não contra a mim, que de antemão nada o fiz, mas contra o mundo que, vai saber...
Só me resta, contudo crer que ele pensa ser eu sujeito de alguma ofensa. E que a sua vida de desamor e outra doença qualquer que não me diz respeito, dá-lhe o direito de roubar-me o sono por meio de um galo idiota. Eu me calo a refletir, tendo o sono perdido, sobre o que o faz pensar que deve um suposto ofensor sofrer o mesmo mal que ao ofendido imputa.
Mas calma aí! Jamais gritei ao ouvido deste filho da puta!
A mim resta então viver neste acordar desesperado e me por a escrever para não arder em raiva, como numa forma de oração. Eu jamais terei o velho por irmão - este engenho improdutivo desumano. Talvez lhe reste pouca vida, espero que menos de um ano. Mas já que não tenho tempo para odiar, e já que tenho muito tempo para transcender e transigir, deixo a raiva dormir comigo. Assim eu calo e eu espero. Afinal, não fosse o vizinho seria outro o inimigo. E não fosse o galo, seria outro bicho, o caminhão do lixo ou até mesmo o quero-quero.
Drigo
O pobre galo não é mau, nem é nada. Ele não cria nem destrói sociedades, ele não ameaça nem oferece salvação. Ave burra e sem requinte que não se lembra do momento anterior nem planeja o momento seguinte.
Meu vizinho, sim - ao alto de seus oitenta e tantos anos, possui a faculdade de lembrar e planejar. Ele é presumidamente uma estrutura organizacional superior ao galo, que, embora envelhecida e enrijecida por uma vida de desamor, é sem dúvida capaz de calcular o peso da dor.
E é capaz inclusive de pensar filosoficamente, sendo, portanto, embora um tanto decadente, capaz de criar e fazer o bem. Mas o velho, que já não prestava quando era neném, escolheu ser daqueles velhos capazes de fazer um inferno da vida da gente.
Meu vizinho que não presta embora pudesse prestar não goza daquilo que terceira vida, a vida mística e religiosa lhe permitiria gozar. Ao alto de seus oitenta e tantos anos, quando a vida se esmera em distingui-lo do simplesmente humano, ele vive ao contrário da vida.
Livre dos afetos e das paixões, esse monte de carne e ossos não busca a sublimação, desconhece o que João chamou de o segundo espírito, e com um galo no quintal, projeta a mim todo o mal, por ser mau ou por talião – não contra a mim, que de antemão nada o fiz, mas contra o mundo que, vai saber...
Só me resta, contudo crer que ele pensa ser eu sujeito de alguma ofensa. E que a sua vida de desamor e outra doença qualquer que não me diz respeito, dá-lhe o direito de roubar-me o sono por meio de um galo idiota. Eu me calo a refletir, tendo o sono perdido, sobre o que o faz pensar que deve um suposto ofensor sofrer o mesmo mal que ao ofendido imputa.
Mas calma aí! Jamais gritei ao ouvido deste filho da puta!
A mim resta então viver neste acordar desesperado e me por a escrever para não arder em raiva, como numa forma de oração. Eu jamais terei o velho por irmão - este engenho improdutivo desumano. Talvez lhe reste pouca vida, espero que menos de um ano. Mas já que não tenho tempo para odiar, e já que tenho muito tempo para transcender e transigir, deixo a raiva dormir comigo. Assim eu calo e eu espero. Afinal, não fosse o vizinho seria outro o inimigo. E não fosse o galo, seria outro bicho, o caminhão do lixo ou até mesmo o quero-quero.
Drigo
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